quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

A viagem, o meu lugar à janela!


Mais uma vez parti,
Uma viagem de ida e volta,
Levei amor, deixei saudade!

Sim parti, mas voltarei!
Não amanhã talvez depois,
Um dia quando sentires a minha falta,
Ai estarei a teu lado!

Olho à minha volta,
Uma solitária carruagem de comboio regional,
Lugares e lugares vazios,
Repletos de histórias
De amor, odio, paixão e guerra,
Guerras travadas na arrogância das palavras,
Amores de palavras suaves e cheios de hipérboles,
Figuras de estilo e figuras de estilo laçadas ao acaso,
Esperando o sorriso do impacto!

Pouco a pouco, meus lugares vazios vão ganhando vida,
Discussões acaloradas sobre futebol,
Os problemas domésticos,
Algures discute-se filosofia,
Ou a teologia dos leigos!
Do outro lado da janela,
Escuridão, reino das trevas,
Cintilam distantes no firmamento estrelas,
Alheias ao domésticos problemas,
Quem sabe se algumas delas
Já não fazem parte da nossa temporal realidade!

Fixo o meu olhar no outro lado,
Um rio! Seguindo meus passos
(ou os do ritmado rolar da carruagem)
Reflexos infindáveis de luzes,
Vão realizando um bailado
(não o dos cisnes, mas o da luz)
Subitamente,

O regresso das trevas,
Fixo-me nas confusas conversas
Da minha solitária carruagem,
Faço uma pausa,
Olho o infinito…

Quebra, algo me prende o olhar,
Uma menina, dessas das historias de adormecer,
Que ternamente se contam as crianças
A caminho do doce mundo dos sonhos.
Passeia-se pelo corredor,
Mostrando seu dotes de modelo profissional,
Na sua inocente imaginação,
O sujo corredor do fim do dia,
É uma famosa passerelle de Paris,
Espera os aplauso do publico,
(nós meros passageiros)
Sinto-me tentado a faze-lo,
Aplaudir sua beleza,
Não o faço, talvez por timidez,
Olha-me nos olhos
Toda aquela ternura de menina me invade a alma,
Um ataque súbito de timidez
Corre para os braços da mãe.

Sei que devia fazer algo útil,
Mas disparo palavras no papel,
Mas o meu pensamento voa,
Para o recente passado,
Penso nela,
Revejo como em filme todos o momentos,
Que ternamente hoje passamos juntos,
No meio de toda esta gente,
Estou só!

O cansaço abate-se sobre o meu corpo,
Os olhos pesam-me, sono,
Levanto-me passeio-me pelo corredor,
Pela passerelle da minha menina,
Olho à minha volta,
Na vã esperança que ninguém esteja a olhar,
E imito os seus passos,
Caindo no ridículo,
Sinto-me de novo criança,
A quem tudo é perdoado!
Minha pequena modelo me olha nos olhos,
E diz à mãe:
- vês, vês, aquele senhor também é modelo!
Felizmente a mãe não a ouvia resmungando com o marido!

Abro os olhos, sonhava, não abandonara o lugar!
Resta-me a saudade, voltarei um dia…
Para junto de ti, em nova viagem…
Em outro lugar junto à janela!

Algures na linha do Douro,
24 de Outubro de 1993

Alberto Cuddel

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